Em todo mundo a disposição final do lixo urbano tem se tornado
um sério problema ambiental. O crescimento rápido da população
e as mudanças nos hábitos de consumo têm levado ao aumento
considerável na produção de rejeitos sólidos.
O lixo descartado pela sociedade urbana é uma mistura complexa e de
natureza muito diversa. Como principais constituintes tem-se o material orgânico
(resto de alimentos e de material vegetal), papel, vidro, metais e plásticos.
A percentagem de cada um desses constituintes é variável e depende
do nível de desenvolvimento da sociedade local.
Muito do material que é descartado no lixo, tem valor em termos de
conteúdo de nutrientes, conteúdo energético ou como recurso
a ser reciclado e reutilizado. Por isso, nos últimos anos, vários
estudos têm enfatizado a importância e o potencial associado à
reciclagem do lixo domestico e destacado o impacto que isso pode exercer na
redução da quantidade do rejeito para disposição
final, além de reduzir o impacto no meio ambiente.
O principal método usado para armazenar o lixo domestico é
a sua colocação em aterros sanitários, que de um modo
bem simplificado pode ser descrito como uma grande escavação
no solo, revestida por uma camada de argila e/ou membrana de material plástico,
onde o lixo é compactado em camadas e coberto com solo ao final das
operações diária. Deste modo, o aterro é formado
por muitas pilhas adjacentes, cada uma correspondente ao lixo de um dia.
Após completar uma camada de pilhas , uma outra é iniciada
até o total preenchimento da cavidade. No final, o aterro é
coberto com um metro ou mais de solo, mas preferivelmente com um material
impermeável a chuva, do tipo argila, podendo ainda ser colocado sobre
a argila uma geomembrana fabricada de material plástico.
O que acontece com o lixo dentro do aterro?
Inicialmente é decomposto (degradado) aerobicamente (na presença
de oxigênio) e depois via anaeróbia (sem oxigênio) e após
meses ou ano, a água das chuvas mais o líquido do próprio
lixo e as águas subterrâneas que se infiltram no aterro, produzem
um líquido chamado de chorume . O chorume em geral contem ácidos
orgânicos, bactérias, metais pesados e alguns constituintes inorgânicos
comuns, como cálcio e magnésio.
Uma fração gasosa também é formada no processo
de degradação, inicialmente contendo ácidos carboxílicos
e ésteres voláteis, responsáveis pelo cheiro doce e enjoativo
que emana do aterro. Depois, forma-se o gás metano que é liberado
para atmosfera ou que é queimado em respiros a medida que é
liberado, podendo também ser aproveitado como fonte energética.
A sua simples liberação na atmosfera não é desejável
pois ele é um dos contribuintes para o efeito estufa.
O chorume precisa ser contido, não pode vazar pelas paredes e fundo
do aterro nem transbordar para não contaminar o solo, águas
subterrâneas e superficiais. Em resumo, precisa ser coletado com freqüência
e tratado para posterior descarte. Em alguns aterros o chorume coletado volta
para o aterro para sofrer um segunda degradação biológica,
mas esta prática é desaconselhável nos Estados Unidos.
Nos últimos dias, temos assistido pela mídia algumas discussões
em relação ao projeto do Aterro Sanitário de Aracaju
e da proposta de sua localização na Imbura. Em termos ambientais
achamos que dois itens principais devem ser considerados: a fração
gasosa e a fração liquida (chorume) formadas no processo de
degradação. Pelas especificidades do local proposto para receber
o aterro centrarei as minhas considerações na fração
líquida - chorume .
O chorume sem duvida nenhuma é o maior problema ambiental associado
a operação e gerenciamento de aterros sanitários, por
causa da considerável poluição que pode causar em contato
com o solo, águas superficiais e subterrâneas. O problema surge
quando o aterro opera sem uma adequada impermeabilização das
paredes e fundo e sem um eficiente sistema de coleta e tratamento do chorume
antes da sua destinação final.
Tradicionalmente, para impermeabilização de aterros usa-se
argila natural compactada. Este tipo de revestimento, algumas vezes, não
se mostrou eficiente, apresentando vazamentos em conseqüência da
existência de fraturas naturais e macro poros. A literatura especializada
tem mostrado que argilas naturais retêm menos que 95% do líquido
e isso é insuficiente para garantir a qualidade da água dos
aqüíferos da região é necessário conter pelo
menos 99% do chorume .
Os revestimentos sintéticos, que também são usados,
tanto a base de polímeros lineares (ex. polietileno de alta densidade)
como de argilas artificiais têm apresentado uma retenção
entre 70 e 95%. Recentemente foram desenvolvidos revestimentos de argilas
terciárias de elevada elasticidade plástica (Engineering Geology,
1999) e os resultados até agora obtidos são promissores.
Considero que antes de se bater o martelo em relação a viabilidade
ou não da localização do aterro sanitário na Imbura,
duas questões precisam ser respondidas:
O processo de impermeabilização a ser utilizado garante
100% de retenção do chorume ?
Não vale aqui respostas do tipo, o material previsto para revestimento
é o mesmo que foi usados nos locais tais e tais e deu certo. É
preciso que se demonstre que este revestimento que está sendo proposto,
funciona num local com as características geológicas e hidrogeológicas
da Imbura e com eficiência maior que 99%.
Assumindo que a primeira questão está resolvida, qual o sistema
de coleta, tratamento e destinação final previsto para o chorume
que será produzido no aterro? Se o sistema não for eficiente,
corre-se o risco de trasbordamento para o ambiente, principalmente no período
chuvoso.
É preciso também definir todo os procedimentos de monitoramento
das emanações atmosféricas e das águas subterrâneas
e superficiais adjacentes ao aterro, e as ações de controle
e correção a serem adotadas no caso de um possível vazamento.
Sabemos da urgência da solução para o problema do lixo
de Aracaju, mas não podemos correr o risco de criar no futuro, um problema
maior e de muito mais difícil solução.
Fonte: www.rnufs.ufs.br
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